quinta-feira, 9 de junho de 2011

Município registra falta de bibliotecários em escolas

Lei obriga que até 2020 todas unidades tenham um profissional especializado



As instituições de ensino públicas e privadas de todo o País contarão com uma biblioteca até 2020. A lei federal sancionada em 2010 obriga ainda que em cada uma das escolas tenha um bibliotecário. Entretanto, tudo indica que a determinação não será cumprida a tempo, pelo menos em Campinas. Passado um ano, nenhuma das escolas municipais possui um profissional especializado na área. Na rede estadual, não há levantamento de quantos profissionais trabalham nas bibliotecas escolares. 

A lei considera biblioteca escolar a coleção de livros, materiais videográficos e documentos registrados em qualquer suporte destinados a consulta, pesquisa, estudo ou leitura. Ela determina um acervo de livros no espaço de leitura de, no mínimo, um título para cada aluno matriculado. O trabalho de orientações de guarda, preservação e organização deve ser feito por um profissional bibliotecário.
Todas as 44 Escolas Municipais de Ensino Fundamental (Emef) de Campinas possuem uma biblioteca. Das 155 Escolas Municipais de Ensino Infantil (Emei), apenas 70 possuem um espaço de leitura. Mas em nenhuma delas há um profissional formado em biblioteconomia. Segundo a Secretaria de Estado da Educação (SEE), todas as escolas estaduais de Campinas possuem uma sala de leitura, mas normalmente quem atua são professores realocados. A SEE informou que não tem um levantamento específico do número de bibliotecários. Segundo as secretarias Municipal e de Estado, a maioria dos profissionais que atuam nas bibliotecas escolares existentes é professor realocado.
Em toda a região, apenas a Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC) oferece o curso no período noturno. Atualmente, existem duas turmas: o primeiro e o quarto anos de biblioteconomia, com cerca de 60 alunos no total. Todos os alunos do 4º ano já trabalham ou fazem estágio na área.

Para a coordenadora do curso de biblioteconomia da universidade, a falta de bibliotecas escolares e de bibliotecários no Brasil é bastante grave. Esse é um curso que hoje não é tão divulgado e conhecido justamente porque não temos bibliotecas nos níveis básicos e intermediários de formação e poucos sabem que existe esse profissional e qual a sua potencialidade”, afirma Mariangela Zanaga.

Segundo o professor de biblioteconomia César Pereira, já faltam profissionais para a demanda atual. “É um campo em muita expansão e faltam profissionais porque a procura é baixa. Temos estudos que apontam que há um déficit de 179 mil profissionais em todo o País e que para dar conta de cumprir a lei no prazo determinado, precisaríamos construir 25 bibliotecas por dia. Hoje, muitas empresas e instituições solicitam alunos para estágio e nós não temos para enviar”, afirma.
Leitura

A expectativa de quem atua na área é de que as escolas tenham em breve uma biblioteca e um bibliotecário. Com essa lei, acredito que a situação pode mudar e que as crianças e jovens cheguem à universidade com um melhor desempenho porque terão frequentado uma biblioteca e criado o hábito da leitura”, afirma Mariângela.
A Secretaria de Estado da Educação informou que apesar de não ter o levantamento de quantos profissionais atuam na rede, está ciente da lei e até 2020 vai se adaptar. A Secretaria Municipal de Educação informou que atualmente não tem nenhum projeto relacionado às bibliotecas, mas que analisa o que pode ser feito para dar cumprimento à lei.
Valorização
Os estudantes e profissionais da área esperam que o curso de biblioteconomia seja mais conhecido e reconhecido. “A biblioteca escolar é pouco abordada, mas é muito importante. Espero que as escolas percebam a necessidade do espaço de leitura e do profissional. Acredito também que, com a lei, o curso será mais procurado e reconhecido”, afirma a estudante do 4º ano, Diana de Souza.

“O brasileiro não tem o hábito da leitura, frequenta pouco a biblioteca e não tem noção do que a gente faz. Espero que os profissionais sejam realmente contratados, como determina a legislação”, diz Lucia Helena Santini, bibliotecária da Escola Americana de Campinas.
“Trabalho em um ambiente agradável, de atenção, silêncio e disciplina, mas gosto principalmente porque faço um trabalho de leitura lúdica com as crianças e desenvolvo um projeto de teatro para atrair os alunos maiores para a biblioteca. Isso é muito prazeroso e recompensador”, afirma Laís Domeni Rocha, de 30 anos, bibliotecária da Colégio Photom, em Campinas.