quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O Bibliotecário e a leitura conectada


Independente dos formatos, livros sempre existirão, livros sempre serão fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade sadia.


por Rodney Eloy


Ultimamente só se falam nos muitos argumentos a favor dos e-books ou livros eletrônicos. Embora tenham surgido em 1971, pouco a pouco tem se tornado popular devido a proliferação dos dispositivos (tablets, smartphones, e-readers etc). No entanto, em meio a este turbilhão existem os céticos que profetizam que tais dispositivos extinguirão os livros impressos e consequentemente as bibliotecas.


Toda esta revolução não deixa de ser interessante, porque como bibliotecário, a leitura de livros tem uma importância significativa em minha vida e tenho algumas centenas deles em meu apartamento. A princípio, depois de certa resistência - mesmo sendo um entusiasta da tecnologia - resolvi me enveredar neste mundo "desconhecido" e ter minha própria opinião sobre o assunto.


Lembro-me da primeira vez que ouvi falar de um tablet, foi em janeiro de 2010, com o anúncio de lançamento por Steve Jobs, de um tal iPad. Mal sabíamos, os pobres mortais, que aquilo era o início de mais uma revolução nos costumes.


Em novembro de 2011 adquiri meu primeiro tablet, um modelo econômico, entretanto, mesmo com seus inúmeros recursos, o que realmente me motivou a comprá-lo foi a opção de leitura de e-books. Como não poderia ser de outra forma, minha estreia se deu com a biografia de Steve Jobs, escrita por Walter Isaacson. Em um trecho tenso da obra, o autor relata uma conversa de Jobs com Barack Obama, onde Jobs declara "Todos os livros, o material didático e os sistemas de avaliação deveriam ser digitais e interativos, personalizados para cada aluno e com feedback em tempo real." Seria este um prenúncio do fim, vindo de uma mente inquieta?


Ainda não conhecemos totalmente até onde estes sistemas nos levarão, o que posso adiantar é que a leitura no tablet tem suas peculiaridades, a primeira, é que não tive de transportar 1 kg das 607 páginas do livro em papel de Isaacson, além disso tem as opções de adequar o tamanho da letra, ler no escuro, controlar o brilho da tela, fazer anotações e marcar páginas, exemplos simples entre tantos, mas que demonstram a praticidade da leitura com os citados recursos. Não me julguem antecipadamente, adorei a experiência e recomendo a todos, mas em tudo existem prós e contras, vantagens e desvantagens. Continuarei lendo livros em papel? Claro que sim, nada substituirá a experiência estética, lúdica, espiritual da leitura em livros impressos. E-books são um item a mais, no imenso ecossistema da leitura. Eu e minha esposa adoramos viajar, oportunamente, eu levo meu livro impresso, ela, o de sua preferência, o tablet também, como um complemento tecnológico e lado a lado, sem superior ou inferior, sem anular um ao outro, ambos distintos, coexistindo e prosperando pacificamente, porém essenciais nos dias de hoje. E mais, acredito que cada leitor deve saber o que é melhor para si e o que pode se adequar em seu contexto. Na área acadêmica, por exemplo, alunos de arquitetura poderiam evitar o peso em suas mochilas dos "Benevolos", "Neuferts", "Gombrichs" etc


A medida que vemos a tecnologia avançando, em contrapartida, a resistência ainda é grande, mas a história parece se repetir, pois já no século XV, Johannes Gutenberg sofria fortes criticas por parte dos copistas que eram contra seus tipos móveis. Ironicamente, o maior catálogo de e-books gratuitos do mundo chama-se Projeto Gutenberg, que inclusive disponibiliza inúmeras obras em português.


Grandes personalidades literárias deixaram a resistência de lado, como Ray Bradbury, que aos 91 anos, permitiu que seu clássico "Fahrenheit 451" fosse publicado na versão e-book. Aos 79 anos, Umberto Eco ao invés de carregar 20 livros em uma turnê pelos Estados Unidos, comprou um iPad e está adorando a experiência, não poupando elogios.


Nos Estados Unidos, uma nação com tecnologia em seu DNA, a dinâmica é outra. Existem escolas sem bibliotecas físicas, porém com bibliotecários digitais, “bibliotecas antenadas” - especialmente públicas - que já emprestam milhares de obras eletrônicas normalmente. É comum encontrar leitores com seus e-readers em transportes públicos, praças, praias etc.


No Brasil, a aquisição e utilização deste tipo de tecnologia ainda são bem discretos, porém a Amazon já tem planos de comercializar o seu maravilhoso aparelhinho e-reader por terras tupiniquins, trata-se do Kindle. Por considerar as taxas de importação exorbitantes, prefiro por enquanto esperar o início das vendas por aqui.


Portanto, vem a questão, os dispositivos eletrônicos substituirão os bibliotecários e bibliotecas? Uma das funções dos bibliotecários é organizar informação, independente dos suportes em que se encontram. As bibliotecas precisam se adaptar a este caminho sem volta e ir ao encontro das preferências dos novos leitores. Os livros impressos vão acabar? Não sei, talvez. Existe um lobby forte de ecochatos, que estão por aí, remodelando a sociedade já faz um bom tempo.


Por fim, independente dos formatos, livros sempre existirão, livros sempre serão fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade, devemos pensar na integração dessa transmidialidade dos livros. A magra estatística de livros lidos por ano em nosso país indica uma subnutrição cultural aguda, e isto sim, é um problemaço a ser resolvido, pois como “tuítaria” Monteiro Lobato se estivesse vivo, em ser perfil no microblog: “Um país se faz com homens, mulheres e livros eletrônicos.”


Rendam-se! A festa nunca é tão divertida quanto parece do lado de fora. A história dos livros continua a ser escrita. É só ligar e ler!



Fonte: http://www.pesquisamundi.org/2012/02/o-bibliotecario-e-leitura-conectada.html